Disputas e fronteiras

a Formação da Identidade Cristã na Literatura Patrística

Resumo

Este estudo analisa a construção da identidade cristã primitiva a partir da literatura patrística, considerando o cristianismo como um sistema relacional em interação com o judaísmo e o contexto helenístico-romano. A partir de uma revisão historiográfica, o trabalho problematiza o modelo tradicional de cisão abrupta entre cristianismo e judaísmo e propõe a abordagem dos "caminhos que não se separam", enfatizando a fluidez identitária nos primeiros séculos. Examina-se como autores patrísticos, como Inácio de Antioquia, Irineu de Lyon, Orígenes, João Crisóstomo e Tertuliano, participaram da definição da ortodoxia cristã e da delimitação de fronteiras religiosas, especialmente no combate às práticas judaizantes dentro das comunidades cristãs. A literatura cristã primitiva é analisada como instrumento de afirmação identitária, contribuindo para a fixação de um cânone e para a consolidação de um sistema simbólico independente. A pesquisa demonstra que a identidade cristã não se formou de maneira uniforme, mas passou por um processo dinâmico de interações, conflitos e negociações, culminando na consolidação de uma tradição religiosa autônoma na Antiguidade Tardia.